Café com Poema

Pequena surpresa para os fãs de Drummond!

19:48




Aluna da UFSCar encontra poemas 'inéditos' de Drummond

   A estudante Mayra Fontebasso, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), descobriu três peças importantes no mundo literário: poemas 'inéditos' de Carlos Drummond de Andrade. Publicados em uma revista de São Carlos (SP) em 1929, os trechos nunca foram estudados e pertencem à fase jovem do escritor. “São inéditos pelo fato de não terem sido catalogados. Eles foram publicados em revista, mas nunca foram recolhidos em livros e nem estudados”, explicou o professor de literatura Wilton Marques, que coordena a pesquisa. (Veja as obras no fim do texto).

   Os "poemas perdidos", como são intitulados, foram encontrados em um exemplar da revista Raça doado pela família Damiano. Na época, o jornalista Carlos Damiano era o editor responsável pelas publicações. Agora, o acervo pertence à Fundação Pró-Memória.
Segundo Marques, as características dos textos correspondem a uma época desconhecida da vida de Drummond, de quando ele tinha cerca de 20 anos, e por isso eles se tornaram relíquias. “Ainda é um Drummond jovem e excitante literariamente, mas que já apresenta um tipo de poema que vai caminhar para a modernidade depois”.
Até então desconhecidos, os achados são considerados 'inéditos' porque não fazem parte do conjunto principal de sua obra e mostram um modo diferente do acostumado modernismo de Drummond.
 

O poema das mãos soluçantes, que se erguem num desejo e numa súplica

Como são belas as tuas mãos, como são belas as tuas mãos pálidas como uma canção em surdina...
As tuas mãos dançam a dança incerta do desejo, e afagam, e beijam e apertam...
As tuas mãos procuram no alto a lâmpada invisível, a lâmpada que nunca será tocada...
As tuas mãos procuram no alto a flor silenciosa, a flor que nunca será colhida...
Como é bela a volúpia inútil de teus dedos...


O poema das mãos que não terão outras mãos numa tarde fria de Junho

Pobres das mãos viúvas, mãos compridas e desoladas, que procuram em vão, desejam em vão...
Há em torno a elas a tristeza infinita de qualquer coisa que se perdeu para sempre...
E as mãos viúvas se encarquilham, trêmulas, cheias de rugas, vazias de outras mãos...
E as mãos viúvas tateiam, insones, as friorentas mãos viúvas...


O poema dos olhos que adormeceram vendo a beleza da terra

Tudo eles viram, viram as águas quietas e suaves, as águas inquietas e sombrias...
E viram a alma das paisagens sob o outono, o voo dos pássaros vadios, e os crepúsculos sanguejantes...
E viram toda a beleza da terra, esparsa nas flores e nas nuvens, nos recantos de sombra e no dorso voluptuoso das colinas...
E a beleza da terra se fechou sobre eles e adormeceram vendo a beleza da terra...

CARLOS DRUMMOND.
 
Fonte: G1 


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