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Sidney Sheldon e suas heroínas: Best-sellers que retratam o feminino no mundo machista

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Se existe um autor de ficção por quem sou apaixonada desde que descobri o que realmente é literatura, ele se hama Sidney Sheldon. O norte americano de cabelos brancos e sorriso largo invadiu o mundo editorial a partir da década de 70, e até hoje continuam lançando livros em continuação às suas histórias, mesmo que ele já tenha falecido a cerca de 7 anos. Sidney possui mais de 30 livros publicados, a maioria composta por best-sellers que conquistaram milhões de leitores em todo o mundo, entre publicações juvenis e adultas.
Gostaria de falar sobre Sidney sendo imparcial, mas a necessidade de contar minha experiência com esse autor é enorme e essencial para esse texto. Sheldon entrou em minha vida quando eu tinha 14 anos de idade, com “Se Houver Amanhã”. Na verdade, Tracy Whitney abalou a minha estrutura. Uma personagem que se inicia frágil e indefesa, grávida, noiva, e que pretende ser feliz pra sempre. Porém, acaba sendo condenada por um crime que não cometeu, perde o marido, o bebê, vai para a cadeia, aprende do jeito mais difícil a ficar esperta. Mas volta com tudo, vinga-se de todos que a enganaram e vira uma ladra. Ah, e ela não precisa de nenhum homem. Claro, tem o par romântico que ajuda ela em um momentinho de doença, mas nada que a prejudique como grande mulher. Tracy luta, mas por ela mesma.
Seguindo o exemplo de Tracy, todas as heroínas de Sidney são fortes, belas, inteligentes e sedutoras. Se não são no início, elas tornam-se durante o livro. As histórias se passam em um mundo extremamente machista, onde há o fetiche pelo corpo da mulher, o abuso sexual, a desigualdade em relação ao mundo empresarial, ou seja, a necessidade da superioridade masculina. As personagens são seres humanos normais, que também querem se dar bem, atingir seus objetivos e conquistar um lugar no mundo. Algumas extrapolam e se tornam obcecadas por seus objetivos, e principalmente pelo poder. O que as tornam ainda mais humanas e reais.
Talvez algo que me incomode nessas heroínas seja a necessidade de algo muito ruim acontecer para elas se “ligarem” para a vida. A personagem só entra em ação após: ser abandonada por um homem; ganhar uma herança gigantesca e sofrer diversas tentativas de assassinato, ter seu convento invadido e quase ser agredida sexualmente; ser acusada de suborno no seu primeiro julgamento; ser acusada de ladra; ir para um país em conflito para ser embaixadora; e por aí vai. Será que realmente as mulheres só ficam espertas após passarem por algo realmente trágico? É uma questão que esses livros me fizeram questionar.
Pode ser apenas ficção, mas está inserido na sociedade a ideia de que a mulher é frágil e precisa de um susto para que se torne alguém forte. Mas, na verdade, a maioria dos homens e mulheres precisam de um choque de realidade para buscarem seus objetivos. Esse choque pode ocorrer na infância, na adolescência, na vida adulta, quem sabe quando? Sidney se utiliza dessa temática em seus livros não em tom depreciativo, mas como uma forma narrativa que cativa o leitor a esperar que a heroína conquiste seus objetivos, como qualquer um de nós busca o seu.
Suas personagens, em sua maioria, saem da pobreza, da desgraça, para chegarem ao topo, em meio à riqueza, ao luxo e ao sucesso. Elas “sobem” na vida através do seu próprio esforço, o que os norte-americanos denominaram de self-made man. Sidney Sheldon comenta que essa característica recorrente entre suas heroínas possui um tom autobiográfico, já que ele mesmo teve que se esforçar muito para conquistar seus objetivos:
“Nasci em uma família pobre. Conheço esses aspectos. Trabalhei como lanterninha de cinema, vendi sapatos para senhoras, fui empregado de uma fábrica. Portanto, tem realmente algo a ver com oself-made man. Eu me coloco um pouco nos livros. Existe algo de autobiográfico.” (O pensamento do fim do século, L&PM. Novembro de 1990)
E, dessa maneiras, suas heroínas são mulheres lutadoras e inspiradoras, que cativam tanto o público feminino quanto o masculino. Em uma entrevista concedida em 2003 ao jornal A Tribuna, Sidney Sheldon fez uma declaração que explicita bem o que a mulher de seus livros significa:
“Odeio aquele clichê da ‘loira burra’, que diz que se a mulher é bonita, deve ser pouco inteligente. Por isso escrevo livros em que a personagem é, além de bela, boa em tudo o que faz. Minha mãe era uma mulher assim. Minha primeira esposa, Jorja, que morreu, era assim, tanto quanto minha esposa Alexandra.”
Seus personagens, femininos e masculinos, retratam a sociedade de uma forma grotesca, manipuladora e malvada, que tem a necessidade de alcançar o poder como principal motivação. Ele utiliza-se de diversas localidades e profissões para criar personagens, os quais, em sua maioria, não são confiáveis. Mas é claro que sempre há o mocinho ou a mocinha que são dignos da confiança do leitor, que possui integridade moral e conceitos éticos. Mas esses são os mais raros. Sobre o assunto, Sidney declara:
“Escrevo sobre outras pessoas. Conheço homens bons, honestos, poderosos e maus. Falo do universo humano. Não posso agradar a todos. Tento chamar a atenção dos leitores através de assuntos que possam interessar a eles, que são professores, estudantes, empresários, prostitutas, caminhoneiros, donas-de-casa e até mesmo a esposa do presidente George Bush. Se realmente eu quisesse satisfazer um cientista na Finlândia e um caminhoneiro na África, desagradaria a todos. Não tento. Já vendi 50 milhões de exemplares em todo o mundo. Pego o personagem e fico polindo-o. Trabalhei uma advogada criminal. Em outro livro, preferi uma embaixatriz.” (O pensamento do fim do século, L&PM. Novembro de 1990)
Sidney Sheldon escreveu ótimos livros, que talvez não tenha agradado aos críticos literários, mas com certeza agradou ao público. Um escritor e roteirista de TV, que possuía uma imaginação incrível (Jeannie é um Gênio e Casal 20 , que o digam!) e uma incrível habilidade de contar histórias. Seus livros são atrativos, possuem histórias que envolvem o leitor e que deixam sempre um gostinho de quero mais. Sem dúvida ele é um dos melhores autores de best-seller das últimas décadas.

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